terça-feira, 10 de abril de 2018

Crivella E As Duas Prostitutas



Postas diante do rei, duas prostitutas que disputavam a maternidade de uma criança recém-nascida e reclamada como filho por ambas.( I livro de Reis ,cap 3 versos 16 a 28)

A sábia postura do rei Salomão , levou-o a determinar que cortasse a criança viva ao meio , e assim lhe dessem a cada uma a metade.

A verdadeira mãe logo apressou-se a abrir mão do pleito, enquanto que a falsa, pedia manter o veredicto “nem eu nem ela”.

Então o rei viu que só o amor verdadeiro de uma mãe legítima, faria ela abrir mão de sua própria filha para salvá-la. E com isso o rei, deui a filha à verdadeira mãe.

Esse arquétipo reproduz bem dois atores (Táxistas e Empresas de APP de carros particulares) que foram postos diante de Crivella, para uma decisão no âmbito da regulamentação , onde de forma semelhante, não há solução que agrade as duas partes, especialmente em cidades como o Rio de Janeiro com uma elevada oferta no modal.

Também de igual forma, não há a mesma boa intenção e comprometimento com o objeto da causa: o transporte individual de passageiros. Se de um lado já se tem a terceira geração de profissionais regulamentados, controlados, fiscalizados 4 vezes ao ano e muitas das vezes com o emprenho de valores altíssimos à espera de sua autonomia/alvará, do outro, desde aventureiros, bandidos mesmo, até aos trabalhadores sim de verdade, mas que não deixam de cooperarem para o desmonte de todo um SISTEMA DE TRANSPORTES. Sim porque já não se afeta só o transporte individual modal táxi, mas sobretudo o coletivo também.



E é aí, que o prefeito Crivella precisa abandonar aquela patente aura conciliadora, acochambradora, e buscar uma postura incisiva como a do rei Salomão, onde ele terá que defender o melhor interesse da criança , aqui representada pelo SISTEMA DE TRANSPORTE como um todo.



Em nenhum lugar do mundo o TRANSPORTE INDIVIDUAL DE PASSAGEIROS É POSTO COMO SOLUÇÃO DE MOBILIDADE. A nossa Lei de Mobilidade, recém estuprada por legisladores que se curvam perante a força dos capitais, fez enxertar em seu diploma original, a maior negação de sua finalidade: prioridade ao TRANSPORTE DE MASSA E TRANSPORTE NÃO MOTORIZADO.

Mas ainda assim , nada está perdido, pois a lei federal é lei subsidiária, e não impositiva, e portanto cabe, na verdade sempre coube à municipalidade a decisão do quê, quanto, quando, onde e como no âmbito de assuntos de interesse local.

A possibilidade de “solução” oferecida por uber e seus imitadores é devastadora sob todos os apectos. A empresa sequer tem preocupação com seus colaboradores, e já demonstrou por diversas vezes , total desprezo pelo que representam, tal qual a cultura de sexismo , onde sua essencia de desrespeito ao ser humano, transpassa nas relações desrespeitosas que dominam o ambiente de uma empresa que não reconhece autoridade em nenhum lugar.

Por isso, sob pena de incorrer num ato de improbidade administrativa quanto aos princípios do direito público, Crivella precisa considerar que já não há nenhuma lacuna no direito positivado, dando a ele, total responsabilidade quanto às decisões que virão. E , se antes , elas estavam tortas e exageradas, elas porém vinham do judiciário, a quem não se pode contestar. Porém agora, sua regulação não estará foram da apreciação jurisdicional do Estado, tampouco poderá desobedecer os princípios que regem o ente público executivo municipal.

Então está posta a questão, e tal qual a criança da disputa perante Salomão, Crivella tem que observar corajosamente o que é legal, justo e sustentável, para que não carimbe em sua gestão uma triste marca de incapacidade administrativa. Logo ele, uma das mentes mais bem informadas e cultas, ser traido pelo apelo popular.

Parafraseando o diretor de transportes londrino: “é preciso ter coragem de se fazer o certo”.

Pensar a mobilidade urbana pelo viés do transporte individual é como dar uma garrafa pet vazia para cada morador de área de risco, e esperar que no dia da chuva, aquela em que chove a quantidade do mês todo em duas horas, e então esperar que esse reservatório de emergência contenha os resultados daquela preciptação. Parece uma piada de mau gosto.

Imaginem que justamente nos únicos momentos em que uber e seus imitadores seriam úteis, justamente em eventos de grande impacto de demanda, eles multiplicam o preço em até 9 vezes, e quando isso não é a realidade, eles levam o preço a níveis insustentáveis.

Ainda hoje sou estudante, e temos todo respeito ao contraditório e aos que tem dúvida, então caso seja o pensamento (desavisado é claro) do , então como é que eles conseguem?

É muito simples. Karl Marx desenvolveu o conceito do EXÉRCITO DAS PESSOAS DISPONÍVEIS, desempregados que regulam para baixo o melhor interesse dos que estão empregados. Uber e seus imitadores, usam esse exército, e as demais pessoas que mesmo trabalhando , tendo uma atividade , também desempenham essa segunda , de forma a aumentar absurdamente o universo da oferta de mão de obra de seus colaboradores, E assim invadem não somente o modal táxi , como o dos coletivos. Um desastre!

Por isso senhor prefeito, lembre-se a prostituta e falsa mãe, só quer se dar bem, ainda que ela tenha que "sacrificar a criança". Ainda que ela tenha que “demitir” todos os colaboradores no dia seguinte da concretização do veículo autônomo, ainda que todos os ônibus percam sua sustentabilidade, ainda que as ambulâncias não consigam chegar às suas emergências pelos monstruosos engarrafamentos, ainda que tenham que continuar a tripudiar da sua autoridade via sentenças judiciais. Eles não tem respeito nem moralidade, eles querem tudo para eles, e só a sabedoria de uma nobre Rei, para fazer valer o que é certo , o que é justo!  

2 comentários:

  1. Sou a favor do justo , porque uns cumprem regras pagam taxas são fiscalizado e muitas das vezes penados por coisa banal e outro lado nada , sabemos q a Uber so sobrevive por conta da praticá de dumping ( uma concorrência desleal) e trabalha sem qualquer regra sem limite é outra coisa eles não perdem uma liminar " suspeito né"

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  2. Martins parabéns pela explanação
    Porém não vejo luz no fim desse túnel a muito tempo, estamos fadados a uma derrocada de nossa profissão e serviço. O taxi virará segundo emprego para muito infelizmente.
    Estamos na mãos de políticos corruptos e interessados apenas em defender seus patrimônio e não os reais interesses da sociedade e cumprimento das leis.
    Admito seu empenho e sua capacidade
    Mas essa é uma luta perdida, onde teremos que nos sugeitar as decisões que “vem de cima” e abaixar a cabeça e aceitar.
    Não temos uma categoria/classe temos apenas um bando de trabalhadores tentando sobreviver individualmente e sem conjunto, o taxi.rio só vem gargantear mais ainda nossa profissão.
    Enfim sejamos fortes
    O pior ainda está por vir

    Passar bem

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