Já vai para dez anos que me encontrava na agência do Banco do Brasil na Cidade de Deus, e presenciei fato que nunca mais me esquecerei.
Assentado ao meu lado, aguardando sua vez , um senhor de idade com muitos documentos a serem pagos, logo vi que era um trabalhador a serviço.
Foi então que chegou um outro senhor , amigo daquele que ali estava e logo a conversa entusiasmada, mostrou que se conheciam a um bom tempo.
Um tanto sem graça, o que chegou por último, disse que iria sacar seu cheque cidadão (uma verba assistencial ).
E meio que desconversando perguntou: e aí vai nos ensaios da escola agremiação de samba ?
Então respondeu : "ahhh nunca mais.... a gente chega lá pra ajudar, compor um enredo , um samba, perde noites de descanso, trabalha se dedica com o coração e sem ganhar para isso , e no final não tem direito nem a um copo d'água. "
Continuou ele : " eu ja fui pra França, pra Alemanha, pra n paises... fui recebido por rei em aeroporto, a aqui se pede um copo d'água, não tem direito, tem que pagar..."
Em seguida aquele trabalhador foi chamado, e ao entregar os boletos a serem pagos, o caixa disse nao haver dinheiro suficiente para pagar.
O que causou aquele senhor um enorme desconforto, a ponto de ele pedir ao caixa, para escrever o quanto faltava , insistentemente, pois nitidamente recebeu os boletos e o dinheiro e não conferiu , e ali diante do caixa, quase que se desesperando , com semblante abatido triste, pois certamente teria que voltar sem a liquidação dos boletos e pior, informar que não teve o dinheiro que deveria ter recebido para efetuar o pagamento.
Eu que já fui mensageiro, senti na pele o drama daquele homem senil e ingênuo, no aspecto da pureza da falta de maudade. Imaginado certamente que duvidariam quanto ao fato, quanto ao por quê daquele dinheiro não estar ali com ele... muito triste!
Homem experiente na faculdade da vida , provavelmente um dos muitos expoentes da cultura brasileira, exposto a uma situação de vulnerabilidade num emprego que certamente nao condizia com a envergadura cultural daquele senhorzinho.
E por que?
Porque aplicou seus melhores anos a fundo perdido , numa coisa altamente remunerada (para poucos) chamada as vezes de a oitava marivilha do mundo - o carnaval.
Esse carnaval mutila e retira de milhares de homens e mulheres simples, uma parte de suas vidas, no que diz respeito à sua formação a sua condição de vida econômica. Pois é ato de entrega solidário sem remuneração e de altíssimo custo, por alienar e não devolver retribuição pecuniária compatível a tantos e tantos que se anulam para que isso ocorra.
Por isso, é corretíssima a atitude do prefeito Crivella.
Afinal como os melhores administradores, não se cria destino de despesa sem que se tenha a origem.
E nesse caso, a meu ver, a origem e o destino são muito, muito acertados.
Até de certa forma , reparam justamente um pouco do grande dano social que este evento particular e remunerado sim , causa aos seus muitos colaboradores ingênuos.
Sendo a única falha de Crivella , não ter cortado tudo!
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